Begotten

A criação e ciclo de vida do Homem são aqui retratados através de um conjunto de representações simbólicas, minimalistas e metaforizadas. Um Deus louco, ou numa trip de ácidos que correu para o torto, esventra-se e sucumbe moribundo, não sem antes dar à luz a Mãe Natureza que, por sua vez, se impregna com uma mescla de sémen e sangue do seu criador. Nasce o Homem. Num terreno imundo e estéril, Mãe e filho são sujeitos às depravações de bizarros humanóides.
O filme não vale pelo enredo, embora tenha a sua significância, mas pela forma como se mostra. Ao longo de hora e vinte, não há diálogos, apenas cenas medonhas, obscenas, e verdadeiramente desagradáveis, levadas ao extremo do tolerável e impulsionadas por um preto e branco sujo e intratável. O trabalho de imagem é, aliás, de uma originalidade tenebrosa e vale só por si a visualização da metragem. Os efeitos sonoros naturais, repetitivos, abstractos, formam uma cacofonia que ajuda a um desconforto e mal-estar inevitável.

O resultado é uma experiência sem par. Cada imagem é uma perversão hipnótica, um psicadelismo feio e disforme. Quem procura algo de diferente e verdadeiramente único tem aqui um achado.

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